Foi naquela semana negra.
O sol não amanheceu um único dia, naquele quarto concentrado de fantasmas e karmas.
Não houve um único sorriso. Nem mesmo hipócrita.
A realidade nua e crua, tinha assombrado aquela cabeça pobre de moralismos.
Tapou a alma com o lençol das lamentações. Da cama que já tinha presenciado, os momentos mais doces da sua vida. Cama essa, que ficou contaminada, com o seu próprio veneno de mulher inconstante.
Aquele quarto ficou trancado. Para não admitir ao mundo as suas fraquezas.
Estava reduzida a nada. O peso da culpa, esmagava-lhe os pensamentos felizes.
O lençol de cetim, tinha-se transformado num lençol de lágrimas vindas das feridas do coração. Este?, era incómodo demais.
Apesar dela saber, que nada voltaria a ser como antes, uma esperança apareceu na entrada da sua toca. De uma forma ténue e tímida.
Não era palpável. Nem mesmo concretizável. Mas no infinito da sua mente, tudo era possível.
Ofereceu-lhe o ombro. Com todo o respeito, que nem todo o homem, nutre por uma mulher.
Deixou-a chorar e deu-lhe toda a atenção necessária.
Ela sabia que nunca o amaria, da forma que já tinha amado o homem que lhe provocara tal sofrimento. Mas durante todas aquelas noites, em que o sono não a visitou, tentava sonhar com ele.
Muitas noites foram essas, de sonhos. Onde imaginava o dia que este lhe pedia que fugissem. Para um lugar, que em nada se parecesse com o que se encontrava. Que tão mal lhe fazia. Que estava impregnado, de boas e más recordações.
Recordações, que não permitiam, que aquela nuvem negra, desse espaço à luz.
Precisava de abrir as janelas. Deixar entrar alguns raios de sol. E jogar ao vento todas aquelas lembranças completamente destruidoras.
Ele deu-lhe a mão. E através desta, transmitiu-lhe a esperança que necessitava.
Abriu-lhe com a sua mão de amigo, umas frechas da persiana da clausura.
Falou-lhe em mundos distantes e aventuras cineastas. Fez-lhe sentir na pele a vontade de viver e não desistir.
Conseguiu voltar a sonhar.
A viagem… o toque… o beijo!
Sonhava com isso. Como se uma aproximação lhe quebrasse o negro da fantasia obscura.
Nunca aconteceu.
Nunca se insinuaram.
Seguiram separadamente com os olhos, um no outro.
Mas apesar deste fim, tão pouco emocionante… conseguiram seguir em frente, com outro reconforto. Que lhes fez!, e ainda lhes faz… toda a diferença.

Coelha*

1 Não reclamas?:

Meia Dúzia de Tretas disse...
4 de junho de 2010 às 22:22

Abre a janela deixa fugir essas lembranças que agitam a tua vida e que te fazem pensar no que já ficou lá trás.

Beijoca ***

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