Hoje eu sonhei…

Calcei os meus sapatos, vesti com cuidado o meu saiote dos sonhos, estiquei as mãos ao céu e entreguei-lhe o meu coração. Estiquei também os pés, apoiando o meu peso todo nas minhas pontas e dei os meus primeiros paços de danças. Fui ganhando elasticidade de novo e todo o meu dom floresceu no meu corpo. Dancei sobre as nuvens fofas e suaves, com todos os meus pensamentos. Pensamentos de amor e sofrimento.
Dei conta que me observavas. Com um olhar calmo e paciente. Pedi-te prontamente para dançares comigo, mas recusas-te articulando um não mudo. Foste-te aproximando sem tirares os olhos de mim. Fiquei imóvel sem entender o porquê de me observares daquela forma. Aproximaste-te com o braço estendido e com a mão bem aberta perante a minha face. Fechei os olhos para não visualizar mais nada. Desenhaste a minha fisionomia com os dedos. Encostaste os teus lábios ao de leve no meu ouvido e sussurraste “Para mim sempre serás perfeita!”. Essas palavras que já tinham sido ditas por ti, gelaram-me o corpo, fazendo com que a capa de cera que me cobria toda a pele, estalasse e começasse a quebrar-se aos poucos, à medida que a tua voz ia percorrendo todos os meus fantasmas. Toda aquela minha capa de medos, que me imobilizava perante ti, caiu. Descolou de mim por completo. Voltando assim ao meu eu. A pessoa que ainda conseguias ver em mim.
Abraçaste-me, puxando-me para o alto das minhas vontades. Rodaste o teu corpo com o meu, num círculo vicioso, apertando-me com mais força. Beijaste-me os lábios. Quebraste-me o gelo. Os meus olhos de vidro voltaram a ganhar vida, derramando assim, aquela lágrima de esperança que renovou de novo aquele amor. Apagou por completo tudo do passado. Como se habitássemos assim, num mundo novo.

Coelha*

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