Eu nasci num país onde os avós me falavam de tempos difíceis como tempos passados, tempos esses que nunca se haveriam de se atravessar no meu caminho.
A minha mãe sempre me disse que eu tinha sorte por ter brinquedos novos só para mim, porque ela nunca os teve, mas tal nunca mais haveria de acontecer, nem a mim nem às gerações que se procedessem.
Disseram-me várias vezes para estudar que teria acesso a um mundo sem restrições de quereres a nível material.
Cheguei a ouvir falar em carta e carro pago pelos progenitores, achando terrível ouvi-los dizer
"Tu vais ter sorte, porque a minha carta tal como o 1º carro fui eu que o paguei".
Falaram-me da fome como um mito dos tempos passados ou de terras distantes.
Olhava à minha volta e todos tínhamos casa, roupa lavada e andávamos bem alimentados... nem outro cenário seria possível!
A miséria ou se escondia ou eu pouco ou nunca a via.
Sempre me achei vivamente felizarda por viver num país onde ora estava tempo para usar botas e casacos quentes, ora estava tempo de calçar uns chinelos e um bikini.
Todos podíamos seguir uma área que gostássemos porque haveria mercado de trabalho, tudo era possível bastava lutar por isso.
Nunca duvidei que tudo isto era verdade e que eu teria sem dúvida, mais cedo ou mais tarde, no país que me viu nascer um futuro vindouro, pelo menos foi o que sempre me prometeram.
Hoje sinto-me enganada, porque todos prometeram e hoje vejo o aposto de tudo que foi prometido, hoje sei que nada é certo e sinto-me um pouco desiludida com este país que tanto nos prometeu e tão pouco cumpriu e ofereceu.
Coelha*